Não há nada de especial nos seus olhos

Abstraindo distrações do minuto que chega

no tempo condensado das velhas lentes empoeiradas.

O segundo disparatado subverteu as suas ilusões mais uma vez.

No espelho olhou e nada viu que incitasse contentamento.

‘Não há nada de especial nos teus olhos’, pensou.

As lentes não escondem nada de tão nobre ou imponente,

apenas dissimulam traços turvos e dissonantes

de uma mente perdida nos intervalos do instante.

Seu sorriso de alegria ingênua em nada inspira gravidade.

Sim, não há nada de especial nos seus olhos.

São tão comuns quanto o vento da madrugada

que incide levemente na janela,

quanto a meiga flor branca quando brota no sertão

a esconder-se do brilho extasiante do sol.

Tão iguais ao sorriso minguante da lua

na incerteza equacionada do céu soturno.

Tão normais quanto à dança mística

das folhas envelhecidas pelo chão do jardim,

os mesmos rascunhos de vida

espalhados pelas paredes do quarto.

Tão iguais, tão normais...

Nada de mais...

Nada que não pudesse ser inventado

na distância do espírito e do mundo sensível

da cosmologia dos globos oculares.

Leitora BNFS
Enviado por Leitora BNFS em 17/12/2011
Código do texto: T3393662
Classificação de conteúdo: seguro