Não há nada de especial nos seus olhos
Abstraindo distrações do minuto que chega
no tempo condensado das velhas lentes empoeiradas.
O segundo disparatado subverteu as suas ilusões mais uma vez.
No espelho olhou e nada viu que incitasse contentamento.
‘Não há nada de especial nos teus olhos’, pensou.
As lentes não escondem nada de tão nobre ou imponente,
apenas dissimulam traços turvos e dissonantes
de uma mente perdida nos intervalos do instante.
Seu sorriso de alegria ingênua em nada inspira gravidade.
Sim, não há nada de especial nos seus olhos.
São tão comuns quanto o vento da madrugada
que incide levemente na janela,
quanto a meiga flor branca quando brota no sertão
a esconder-se do brilho extasiante do sol.
Tão iguais ao sorriso minguante da lua
na incerteza equacionada do céu soturno.
Tão normais quanto à dança mística
das folhas envelhecidas pelo chão do jardim,
os mesmos rascunhos de vida
espalhados pelas paredes do quarto.
Tão iguais, tão normais...
Nada de mais...
Nada que não pudesse ser inventado
na distância do espírito e do mundo sensível
da cosmologia dos globos oculares.