O CASACO
A viagem seguia silenciosa. A noite escura fazia-me confidências. Falava de um mundo de magia e mistérios. No interior do ônibus, um desconforto gélido. Corpos se ajeitando a procura de calor. Observo a dança dos corpos. E sobre cada um, um casaco.
Fiquei pensando sobre os casacos e como eles se dispunham junto às pessoas em suas poltronas. Umas os vestiam, outras cobriam o dorso, outras apoiavam a cabeça.
Percebi algo curioso.
O casaco no corpo, vestido, não produz o mesmo efeito que “sobre o corpo”. Vestido parece não aquecer tanto. É cômodo e tudo que é cômodo perde a graça, a magia, a ternura. Mas, um casaco sobre o corpo é puro aconchego e desconforto. Você nunca esquece. Ele está sempre escorregando com o balançar dos ombros. Daí a necessidade de constante atenção.
Instabilidade e calor.
Uma contradição!
O casaco é uma metáfora dos relacionamentos.
Aquilo que nos envolve e nos dá segurança, de repente, perde o viço, a graça, o encantamento. Mas aquilo que nos deixa vulneráveis, causa frissons, não deixa a emoção arrefecer e tende a durar.
Quero ser para o meu amor um casaco sobre os ombros!
Poema publicado no livro "Curvas & Poesia" que se encontra no
site www.contoepoesia.com.br.