O CASACO

A viagem seguia silenciosa. A noite escura fazia-me confidências. Falava de um mundo de magia e mistérios. No interior do ônibus, um desconforto gélido. Corpos se ajeitando a procura de calor. Observo a dança dos corpos. E sobre cada um, um casaco.

Fiquei pensando sobre os casacos e como eles se dispunham junto às pessoas em suas poltronas. Umas os vestiam, outras cobriam o dorso, outras apoiavam a cabeça.

Percebi algo curioso.

O casaco no corpo, vestido, não produz o mesmo efeito que “sobre o corpo”. Vestido parece não aquecer tanto. É cômodo e tudo que é cômodo perde a graça, a magia, a ternura. Mas, um casaco sobre o corpo é puro aconchego e desconforto. Você nunca esquece. Ele está sempre escorregando com o balançar dos ombros. Daí a necessidade de constante atenção.

Instabilidade e calor.

Uma contradição!

O casaco é uma metáfora dos relacionamentos.

Aquilo que nos envolve e nos dá segurança, de repente, perde o viço, a graça, o encantamento. Mas aquilo que nos deixa vulneráveis, causa frissons, não deixa a emoção arrefecer e tende a durar.

Quero ser para o meu amor um casaco sobre os ombros!

Poema publicado no livro "Curvas & Poesia" que se encontra no

site www.contoepoesia.com.br.

Suerdes Viana
Enviado por Suerdes Viana em 16/12/2011
Reeditado em 11/02/2012
Código do texto: T3391199
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