Um Silêncio não Inocente
 


Todas as maneiras de preencher, somar, dividir, o coexistir num vazio onde nada há para se trocar - Tudo foi deliberado. Ninguém para abstrair-me daquilo que só a mim, cabe sublimar ou se deixar desmoronar num copo de whisky on the rocks.  Nada a perdoar porque talvez, houve um momento louvável, eu sei, pouco provável entre nós, humanos, em que a compaixão abraçou todos os amores que se batiam contra a solidão dos dias, e nada, nem ninguém foi condenado. Somos todos partes transgressoras buscando um par numa dimensão estranha que nos faz Um e nos divide carregando a esmo nossos desejos.
Nem um pensamento furtivo no presente, querendo turbinar um futuro ainda não eleito e assim, esse silêncio se constrói, na impermanência de tudo... no abandono. Um abandono de quem abdica e só ele aquece essa comoção deitada na sombra, como criança absorta. Não o abandono do desamparo porque todos, em mim jazem nesse silêncio profundo e respeitoso, mas mexido pra caramba porque a matemática das coisas, nele não se conjuga. É um cálculo feito pela existência na tentativa de um sopro melhor de vida. Sei-me aqui, como corça sem mazelas em selva de imagens desconstruídas e repletas e isso, é tudo. Sei que uma estação feliz de verão vale por todos os invernos de mentira. Esse é o plus do clima.
Às vezes, um tremor profundo me corta ao meio e volto a multiplicar -me em horizontes incógnitos. Nada se justifica. É apenas, um doar ao tempo o que não me cabe e, nem eu mesma caibo, por vezes, nesse silêncio de memórias, parco de dores. Nele, sensações inescrutáveis estremecem minha alma e eu tonta, reconheço-me em mim mesma.
Já não esquadrinho origens, ainda que lamente - onde começou uma manhã tátil de devaneio, onde anoiteceu, de súbito. Nesse silêncio de tantos eus arrepia-me uma fulgurância lunar em meio à madrugada em que a sorte desse tanto se dar, talvez deu-me em exuberância o que eu mais precisei e o que não carecia também.

Esse, não é o silêncio dos inocentes, como o silêncio do meu cão vivendo a eternidade dos dias, sem saber da morte. Não é o silêncio triste de palavras mudas de covardia, nem o silêncio alegre feito a dois no gozo inteiro. É um silêncio de gruta, onde dorme um diamante que não se quer brilhante facetado a ornamentar os dias.