MATINADA FESTIVA DE VERÃO

 

 

 

Mirabile Dictu.

 

 

                                        Ah, se eu pudesse e se fosse possível, por certo, daria de presente esta manhã festiva de verão, para uma mulher linda e de sorriso longo e fácil.

Na verdade essa mulher existe, mas continua desconhecida e ausente nesta manhã, apenas sinto os seus leves murmúrios na antecâmara do meu inconsciente.

E se ali ela se alojou, eu quero acreditar que existe alguma intenção de caso pensado, pois para exercer e usar esse evento da transferência, talvez ela esteja em busca de sonhos.

Ordeno-a para sair do meu inconsciente, para junto comigo, apreciar as belezas inefáveis da Criação.

Assim obscurecida nessa íntima caverna, ela não poderá ver os entretons de uma aurora que acabou de se esparramar pelo horizonte leste, aonde os dias sempre se repetem e nascem.

Também ela não poderá sentir a profusão de aromas que se evolam dos campos e das relvas, ainda molhadas pelas lágrimas da madrugada, o orvalho santo que refrescou na noite as suas quietas intimidades vegetais.

Que pena! Ela também não poderá ouvir as melodias encantadoras dos pássaros, numa sinfonia que eles apresentam todas as manhãs, sem ao menos terem um único e simples instrumento musical, apenas as suas almas bordadas de gorjeios e harpas.

Hoje, eu gostaria de presenteá-la com o nosso clima aqui do sul. Um espetáculo!

Por exemplo, com as manhãs festivas e com os crepúsculos uma verdadeira aurora às avessas e, inclusive, com a noite essa boa alcoviteira que ressuscita sonhos e amores.

Por certo, ao admirar essa imensa lagoa, ela se apaixonaria pelas gaivotas, brancos mísseis da paz, que voam serenas e rasantes pelo mar para, atingirem os nossos corações já cansados em ensimesmar-se.

E se aqui ela estivesse nesta manhã, nesta apoteose matinal e caminhando comigo, com toda a certeza, os seus seios robustos arfariam com a abundancia do oxigênio novo e com a ousadia gostosa e inconveniente dos meus olhares.

Mas como nada disso aconteceu e nem vai acontecer, uma fada boazinha se apieda de mim e faz descortinar ante os meus olhos uma sílfide.

De bicicleta e saída do nada, me sorri e me deseja um bom dia todo especial.

Naquele sorriso eu garanto que continha tudo, mais do que um simples bom dia – talvez um convite.

Talvez tenha sido apenas a ocorrência de um evento sincrônico.

Ah pouco importa, só espero que essa sincronicidade se repita todas as manhãs durante as minhas teimosas caminhadas.

Porque agora, ela permanece pedalando e bicicletando os meus desejos e os meus sonhos.

É “mirabile dictu” isto, porque é bom que ela saiba que eu ainda continuo o seu poeta.

E se ela duvidar por um instante desta minha sina, eu caço todas as borboletas desta manhã e levo-as para cobrir o seu corpo, com esses versos multicoloridos, naturais e alados.

Eu sei que isso será desnecessário, portanto, eu mesmo me transformarei nesse inseto alado e voarei para as suas pétalas, os seus lábios.

Neles, extasiar-me-ei no néctar lúbrico da sedução final, prostrando-me indefeso sem o caráter do sacrifício ante a pulcritude do seu corpo santo, a minha real basílica de perdidos amores.

Por isso, Minha Linda Mulher, é “mirabile dictu” isto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 06/01/2007
Código do texto: T338519