AS GRALHAS NA ESCARLATE TARDE
No dia polido de sol as gralhas vieram exibindo suas sangrias e suas feridas podres. Vieram aos montes exalando na aproximação do contato o odor de sua decomposição. Entraram afoitas e aflitas no gerúndio espetacular. Chegaram nervosas no momento da porta aberta. Seus olhos sequiosos por objetos recentes procuravam cores e designers, sua vaidade era uma fome incessante e, no entanto, eram tampouco, gralhas.
Ao adentrarem ao ambiente derramando sangue pelo chão ficaram quaser imóveis, quase nulas; parando e permanecendo estáticas para olhar através do vidro a comida sem sabor que seus olhares doentios procuravam a esmo. seus desejos adejavam sobre a artificialidade dos objetos no interior das redomas.
Então o tempo começou a passar mais lento e pela calçada uma multidão veio descendo e cantando. Na letargia os sons não feriram gralhas, nem ouvidos e nem olhos. Somente as feridas continuaram apodrecendo em meio ao canto, às bandeiras que tremulavam banais e aos rojões que estouravam com fúria mundana no longínquo céu. Refugiamo-nos então em nossas caixas cranianas, permanecemos em silêncio um longo tempo até que tudo cessasse por completo. Em seguida retornamos e as ainda estavam por lá. Quase mortas, totalmente sãs...não sei o por que mas, continuavam quase mortas e totalmente sãs.
Morpheus