Tricy triste (série Cyndi Lauper)
A digital errada gravada na alma. A capa do livro rosa, que já foi vermelha. A estante do quarto muito grande descoloriu... Não o livro, mas principalmente a alma.
Abre na página que quer, tem poucas em branco, e mais em branco são seus bons momentos, ela tem sede de registrar como quem vive de qualquer memória.
Dois pra sempres, três pra sempres e meios: ela coleciona os nãos de todos os formatos.
Ela não pensa pra se expressar, ela só calcula o exato quanto se jogar, até que a redoma não tenha mais ar, que a lua confeitada a convide pra dar uma volta.
Ela tropeça nas decepções espalhadas, “aquela ilusão ali”, é só mais uma boneca sem os braços.
Ela descansa num travesseiro de pétalas, construído pelo que caiu dela mesma.
As mudanças que te obrigam a definir quem é. Todo mundo tão igual. Mas é feio ser diferente... E as ideologias que mudariam o mundo ficam na gaveta ao lado dos cachecóis.
Não Tricy, é aqui dentro que batem: atrás da porta a certeza de uma risada e lascas de sangue convertidas em palavras.
Dá pra ver uma cicatriz que chora do lado esquerdo, no canto acima da sua alegria.
“Por que quando as pessoas desejam algo, elas não conversam?” Ela cansou de vestir seu sobretudo de sonhos e calçar o sapato da esperança sem salto. No criado mudo, um maldito despertador que adormece suas idéias... Ela tateia todos os espaços do quarto com os olhos, e suas íris não querem mais ganhar tempo com o nada.
A garota do cosmos, a garota do calendário, a garota desejada, espere! Você ainda pode ser muitas garotas... Ela já tentou ser legal, já tentou ser normal, já tentou ser só alguém. “Mas pra que, se ninguém me entende!? Pra que, se no final a resposta vai continuar sendo não?”
Então o palacio das quatro paredes do quarto guarda um monstro que ainda não se descobriu princesa.
Muito cansada de tudo o que ela sempre quis, fecha o livro de capa rosa que já foi vermelha, até que sua pior idéia concretize, e vermelho não seja somente seu livro, mas o que jorrou dos seus tristes... E pra sempre no conto de fadas real, o final não seja feliz... Quem sabe nem tenha final.