Presença



Da presença que me navega, eu assim, tão caudalosa, que vela me guia ? Fundo é esse mergulho ausência onde ancoro no silêncio das palavras secretas que nunca ousarei compor e assim... deixo o barco correr.  No meu sonho horizonte, a presença forte de tantas costas e no mesmo sonho, nunca chego...será ? Ilhas em mim divididas, lidas em palavras, em vidas, em décadas, no mistério de tudo que vai...meu pai, meu irmão, minha mãe, meu cão. Esse tanto desancorar. Eu, oceânica presença amorfa que em sal cristaliza-se - noite de chuva, breve parada molhando-me e o olhar. Em mim estar, somente em mim, indivíduo presente e por mais que eu me ausente  e me transporte em cena de cinema, paisagem estrangeira, drama, na dor do outro, em poesia... em choque, de novo, volto e sei que esse ser que me cabe, por vezes, não me veste ...não me veste bem. Sob medida sou, no centro da ação onde a carne treme e todos os passados desabam como chuva de verão. Por que, só me sei bem assim ? Ternas enseadas sonhadas, os pés enterrados na areia quente e um devaneio menina de horas não concluídas depois, a contemplação na beleza das tempestades - Penso que foi assim que tudo começou. Mais tarde, em correntezas, vi tanta terra e gravidade, tanta luz sem vontade de brilhar e agora, essa aridez, essa austeridade em tudo que envelhece. Ponho-me a deriva, sabendo-me ímpar em noite ordinária. Tudo nada singular - incontáveis lembranças e imagens, margem de um corpo que envolve, e de novo, divisa-me. Eu, presença e partida em intermináveis leituras de tudo que em mim converge e diverge, buscando um ponto de encontro num círculo que nunca fecha.
Resta-me busca-lo, de novo e de novo até que amanheça e, mais uma vez, saber sem assombro que sempre anoitece de forma cálida e irrefutável.