Penso na poética deste domingo, neste país da dança de pernas e sua arte diante da bola. Penso na morte, como se dela pudesse extrair a amplitude de compreender o sentido de partir; e quanto mais a penso, mais me convenço que ali mora o processo de incubar uma vida nova, mesmo quando nossa existência foi retalhada até os ossos... Enquanto um lado do coração se esvazia, o outro se enche; quando uma respiração termina, outra se inicia.
Pela manhã, penso no sol e no seu calor azul, mesmo sendo uma manhã triste. Ouço fogos! É dia de jogo; jogo importante! Penso no contraponto da vida e seus ciclos; e por assim pensar me vem aquela inconformação genuína do ímpeto que te impulsiona como torcida num dia tão antitorcida. Penso na democracia arrebatadora de expressar sentimentos, muito além daquela que desiste de ser, achando-se que só assim pode ser livre.
Não, não sou corintiana, mas admiro seres humanos; muito mais do que o próprio esporte, que abracei como profissão. É uma admiração que não consiste num pedaço, não é fragmentada. É aquele todo, é aquele inteiro! É o jogador, que devendo inspirar saúde, é alcoólatra e o admite! É o que toma a frente, não apenas na defesa de levar gol, mas na defesa de seu país diante das injustiças. É o cidadão, que podendo não ser, escolheu a grandeza do simples.
A beleza nisso? Ora, existe maior do que admitir-se? Olhar-se? Confrontar-se? E ainda assim, falhar?
O que somos senão esse novelo, do belo ao não belo, diante das adversidades com as quais não aprendemos, mesmo sendo empurrados a fazê-lo?
Portanto penso, é quase uma poesia a morte de Sócrates neste dia, é uma passagem que faz refletir sobre o fim e seus tantos recomeços, é quase uma bandeira que treme única.
Não apenas preta e branca, seria muito pouco.
Mas a de todos nós brasileiros; aquela verde, amarelo, azul e branco.




Mirea
Enviado por Mirea em 04/12/2011
Reeditado em 04/12/2011
Código do texto: T3371758