SOZINHA
Eu não costumo me incomodar com a minha solidão. Na verdade, acho que solidão não é a palavra mais adequada, porque solidão traz consigo um peso de tristeza, um teor de sofrimento e não é isso. Minha solidão é puramente a falta de companhia. Ela não me faz sofrer nem me sentir incapaz. Ela apenas me traz um certo prazer diante do isolamento, e isso pode não ser bom.
Eu aprendi, já há algum tempo, a conviver bem comigo mesma. Aprendi a suportar meus defeitos e a não enaltecer narcisisticamente o que tenho de bom. A sorrir para dentro e a rir de minhas próprias mancadas. Aprendi a sussurrar em minhas vias emocionais “É isso aí garota, você consegue!” e a gritar “Já chega! É hora de parar!”. Aprendi também a ouvir meus exageros, minhas tolices e meus absurdos, porque é só depois de ouvi-los que consigo encontrar o melhor caminho.
Essa minha solidão me fez alguém mais gentil, mais amorosa e mais compreensiva, porque percebi que o tal “vazio de estar só” que eu geralmente consigo preencher sozinha, a maioria das pessoas não consegue e ele acaba se tornando uma grande dor, dor que com um simples sorriso e um momento de atenção pode ser amenizada. É... minha solidão me ensinou a anestesiar algumas dores.
Mas apesar disso tudo, às vezes me questiono se há algum rastro de rejeição nas causas desse meu isolamento. Sei que sou meio caótica por dentro... caótica no sentido de processar e exibir e armazenar e modificar e adicionar e excluir... “informações” demais ao mesmo tempo, daí acho que isso pode assustar um pouco algumas pessoas. Não é todo mundo que gosta ou que aceita tantas possibilidades numa só dimensão. E é nessa dimensão em que me perco a cada oportunidade de estar sozinha, a cada encontro comigo mesma. É nela que busco a minha paz e a confusão que necessito para sobreviver. E não... eu não me isolo no meu mundinho particular e esqueço da realidade. Nada disso... Eu só compreendi que minha melhor amiga e minha maior inimiga moram dentro de mim mesma e que eu PRECISO conhecê-las muito bem para poder encontrar meu chão, para poder encontrar meu céu...