MURROS DE LAMENTAÇÕES
No silêncio, o pensamento divaga no mar do saudosimo e descobre que a melancolia também seduz: há espaços entre os mergulhos até a cegueira que às vezes incomoda gente que diz ter prazer em brincar com letras; Certamente é o bizarro quem diz que não suportar a burrice... diz o ditado que quando “um burro fala o outro abaixa as orelhas” é duro nesta altura da vida perceber que estamos num mundo rodeado de asnices. Somos infalíveis?
Como se testa a confiança das pessoas se nosso pensamento tem cadeados que somente nós temos a chave?
Não seria educado citar o nome das musas deste texto, (sorte dos homens musa não ter masculino).
Em matéria de ignorância eu me olho no espelho, tenho alma de formiga, será que os outros (se) veem?! Sei lá? ...tem coisas que ninguém entende porque existem... e por que teríamos que nos preocupar tanto com elas?
Quanta gente desperta para o dia, se julgando o futuro sucessor da cadeira número xy na Academia Brasileira de Letras? Quanta gente é PhD em z mas em matéria de simplicidade deixa muito a desejar. Eu mesma não devo ser uma pessoa simples, ou será que todos somos complexos? Desconfio que grande parte da população pensa que esconde seus “comprexos”... desconfio que a pretensão se insufla com pouquíssimas serpentinas e confetes fora do período carnavalesco coisa de pessoas que dão valor por demais a títulos, tietagens e pouco valorizam o que vem das mãos dos: jardineiros, padeiros, peixeiros...
Confesso sou fã de Manoel de Barros. Eis aí o pecado do tietar.
Gosto do perfume de rugas, da mesma forma que respeito marca-páginas de flores secas nos livros e que se dane quem preferir bisturis e pinças, arrotando pseudo sabedorias!
Admito que aplaudo quem tem a capacidade de me fazer entrar num cenário e me comover como se tivesse entrado num nascer do sol fazendo aos poucos parte dele, tem tanta gente que disfarça as lágrimas por trás das cores de um ou outro sorriso.
Se formiga tem ferrão, aproveito para lembrar que constantemente os olhares que se auto defendem atrás de muitos “não gosto disto e nunca irei apreciar aquilo outro” ...se surpreenderiam com uma imensa vontade que vai de encontro daquelas proezas consideradas de-tes-tá-veis.
Pois então, quando se está em um corredor de hospital, o maior pedido podia ser para que as fadas ajudassem a encontrar logo alguma veia mais exposta naquele bracinho frágil, mas às vezes “a criança” tem riozinhos de sangue azul camuflados... e alguns continuam a culpar a: enfermagem, a genética, o papa Grande e o pequenino...
Tenho a impressão que o amarelo de medo e o excesso de coragem convivem em linhas tênues e teimosas, e minha bola de cristal vê que se um automóvel sujo toma banho uma vez por ano nada terá a ver com o toró naquela tarde... mudamos de assunto, como nos afastamos de determinados sentimentos com tamanha facilidade (se quisermos).
Eu, tenho consciência que poucos lerão estas linhas, mas se Van Gogh que era Van Gogh sentia prazer em pintar... e Kurosawa disse ter encontrado Van Gogh num sonho, e os sonhos cristalizam nossos sonhos mais urgentes... entre os meus sonhos acordada, eu sempre quis escrever ...e prossigo minhas vivências sonhando em colocar os pés na velha e boa Amazônia... antes de morrer quero conhecer Fernando de Noronha, Machu Picchu e outras terras. E você, já teve déjà vus?!
Tem gente que tem a capacidade de querer empurrar o outro para a beira do buraco. O que seria da Ópera se não houvesse os contrapontos das vozes guturais despejando o fel do Rock?
Nestes finais de dias quase inacabados, aprecio o presente, o tédio e as surpresas, se o barulho das páginas viradas cada vez se distancia por que há alguns episódios que insistem em voltar lá detrás? Respeito as construções do futuro (as minhas e as de outrem) ...mas é assim que vamos organizando nossos ecos presos na garganta... primeiro retiramos tudo para fora despejando em qualquer chão, os artefatos de nosso saco; e se faz necessário tocar e revirar brinquedinhos velhos para não criar bolor, e dar vida as novidades... nem que para isto tivermos que matar troços e traças e dividir um outro ou outro rabiscos no imaginário com algum (antigo) inimigo, para continuarmos a sobreviver.
Dizem que não é bom guardar raiva, às vezes é bom escrever tudo o que incomoda tim tim por tim... e, se a gente não gostar do que leu, que nos permitamos a atear fogo nos textos... (não passe vontade leitor, sem angústia, não passe vontade) ...taque fogo nos textos!
Rosangela_Aliberti
Atibaia, 30 de novembro de 2011
(art by Mark Ryden)
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"Bottle" by Kirsten Lepore
http://www.youtube.com/watch?v=5mVEapKnS1c