Ninho de Noias
I
Somos muitos noias
No ninho da cana
O doce nectar da vara
Que adocica a boca
Depois de processada
Embriaga nossos sentidos
II
Somos muitos noias
Cher Jean-Paul Sartre
Hoje, quer onde se vá
Só se vê carro, soja e cana
Será furacão sobre Cuba
Agora, aqui no Brasil?
III
Viajar por estradas aqui é vara ardida
Alimentar o vício do sonho Corpersucar
É pois, na terra da cana quase impossível
O destilado que entorpece a caranga
Que brota da terra, vira alcool e açucar
Como pode custar o olho da vara?
IV
Automóveis a preço de xepa em final de feira
Contrasenso ou caso pensado de governos
Para engarrafar noias em financeiras,
Sufoca-los no transito caótico das metrópoles,
Sevicia-los com pedágios, zona azul, industria de multas
Move-los ao consumo da cana e de carburant d'or du Petrobrás
V
Sinto-me mal no ninho canarinho
Não quero compartilhar desta embriaguez
Embora faça parte deste grande ninho de noias
Sempre que posso descarrego meu balde de fel
Trocando em miúdos é atravéz das palavras
que destilo em vara amarga meu nectar.