SAUDADE

É desafio ardiloso impedir que a saudade oprima a lucidez do escrito como tradução da voz poética – esta que se derrama em mazelas pessoais – relatando carências e crises e escrachando o intimismo, que é expressão confidencial. Em sua saga emocional profunda, caso o poeta-autor não a consiga obstaculizar ou minimizar, ela sempre atuará tal um cão tentando morder o próprio rabo, o qual foge do alcance dos dentes, devido à mobilidade espiritual. Mesmo que a saudade esteja desterrada na solitária cela de um poema-mínimo com gosto de lágrima. Num relance, das mãos do dono, o animal fugirá para muito além da coleira. O poema é um cão fantasma...

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2011/2016.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/3360384