LÁBIOS DE QUERUBIM
Às vezes, quando a noite tranquila chega-se ao alto, minhas mãos caminham por tua pele, como mariposa sobre a ilha das lamentações. O seu silêncio é quase sólido, tentando me fazer desistir de atravessar teu deserto de areias frias sem a mínima noção da catedral empoeirada que guarda teu coração, como se fosse a melhor moradia. São corais de amor que habitam as profundezas do mar dos teus olhos, sendo corroídos pelo sal das tuas lágrimas de cera que não cabem mais no poema de tempos nostálgicos. Tudo aqui se tornou bucólico demais para prosseguir nessa industrialização dos nossos sentimentos. São vozes que gemem por pungentes dores, superando sentimentos em sonhos; devaneios de loucos. Chama-se de vida, esse martírio poético em que a alma vive se morrer não pode, debruçando devagar em meu leito de morte. Dizer que vivo é afirmar uma contradição sem sentido, fuzilada pela epitelial delícia da minha Musa.
Nessa ausência existo, na amante terna, no calvário explícito. Crer assim que se é um triste desgraçado que preso vive, também, na masmorra escura dos meus dias infindáveis. Mas são em teus olhos que tanto brilham, prendem o encanto e salvam a minha alma, com tal casto amor. E nessas faces purpurinas de rubras cores, tal forma divina, em meigas feições de menina, inspira-me a doce e mais singela poesia ao terno coração. mas são em teus lábios leves e breves que encontro o abrigo para meus tormentos intermináveis; deslizo um anel em teu dedo, casando contigo entre orgasmos e mimos. Tu, minha amada mulher, minha doce senhora, és a dona dos lábios de Querubim, que hoje cantam um sim para o ás do meu coração.
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