Mas não gosto mais.
I
Ela havia acabado de desligar. Não tinha nem um minuto e o rio já era forte pelo rosto bonito.
Ninguém estava vendo. Ninguém jamais veria. Era outra parte do segredo dela. Mais uma.
A dor também no ventre a agredia, mas não mais do que o silêncio no lugar das desculpas. Não mais do que o "me perdoe" que ela não ouvira.
E queria, tanto. Chorava demais. Sentiu os olhos latejando, o estômago revirando, e não era mais enjôo. Ele mesmo dissera, já havia passado desse dia.
E então lembrou. Não, claro, que tivesse conseguido esquecer. Mas lembrou. E doeu de novo. Mais ainda.
Porque havia doado e doído tudo. Não negara nem um último refúgio, nem uma última convicção. Dera tudo.
Talvez por isso mesmo estivesse assim. Vazia.
II
Ela havia acabado de desligar. Não tinha nem um minuto e o rio era corredeira pelo rosto bonito.
Mas dessa vez ele veria. Viu. Chegou e viu. Mesmo que ainda fosse segredo. Mais um.
A dor física era agora só uma lembrança, mas latejava ainda como se fosse verdade, como se ainda viesse.
Chorou. Não conseguia evitar. Mas evitou outro toque, mais um beijo, outro "me perdoe". Nem quis ouvir. Ele tentou e ela o calou só com o olhar.
"Eu quero resolver isso tudo. Tenho só mais três coisas pra te falar. Presta bem atenção."
"Não. Você prometeu."
"Você também. E veja só onde paramos."
"Eu te amo. Fica."
"Eu também te amo. Mas não gosto mais de você."
E ela disse adeus.
P.S.: Quando criou forças.