Quando senti sua falta...
Será que voltaria?
O ar frio da manha
nas minhas narinas,
a janela estava aberta.
Ela estava lá fora
com seu enorme casaco de lã
vermelho...
De meias somente,
correndo pelo bosque.
Perto da cabana, junto ao precipício
eu podia ouvir o mar bater
nas pedras,
no bosque ela corta o pé.
O sangue escorre pela meia,
vermelho...
Ela corre, corre, corre,
o orvalho da manha molha
seu rosto..
Não sente dor ainda,
esta sempre fugindo da morte.
Eu cerro os olhos,
sei que vai voltar,
anseio por sua volta
mas não posso impedir
que corrra, corrra, corra.
Ficamos tempo demais
aqui dentro com nossos
fantasmas...
Choramos muito, sofremos muito.
Tento me encolher na cama
e sonhar...
Com a vida que tinhamos
no passado...
Não consiguo me mover.
Agora, encharcada de orvalho
e sangue...
ela diminui o passo,
seu rosto ferido por um galho.
Volta-se de novo para ouvir
o mar...
Então começa o caminho
de volta...
Mancando, com frio, mas
as faces ardendo , de terror
e de paixão...
Logo está de volta a cama,
arfando, suada e molhada,
de orvalho da manha.
Aninha-se o corpo todo no meu,
não quer ouvir o mar...
Sinto o sangue no seu pé,
nao ouso olhar,
a tomo nos braços e
aperto seu corpo contra o
meu lhe fazendo amor,
enquanto ela chora.
Quanto tempo vamos
vivenciar este sofrimento?
Quanto tempo ela vai fugir?
E vai voltar...
O frio ainda nao vai terminar!
No êxtase do gozo diz o meu nome,
ainda nao estamos livre, afinal
uma gota de orvalho destruiu
nosso mundo...
Que fazer agora que o mar
continua a bater nas pedras?
Poema retirado do romance "Orvalho" de Ana Lago de Luz