Foge comigo.

E ficava remoendo aquelas palavras

todas as que ele tinha sussurrado do outro lado da linha

as que ele arfava enquanto entrava e saía

todas as palavras que ele tinha dito com os olhos dentro dos seus

E ficava remoendo, mastigando aquele bolo de emoções sem fim

aquela miríade, a tempestade que era estar ali

tão dentro

tão desesperadoramente dentro que o copiava dentro de si

e o copiou tão bem, mas tão bem

que não houve alternativa

nem meias palavras, nem saída

ele estava mesmo ali

e a descoberta foi tão linda, pacífica, quase adivinhação

não precisava de nenhuma daquelas duas linhas

não precisava daquele parabéns

Simplesmente sabia

e saber daquilo, estar com ele ali dentro, era bom

E ficava remoendo, a ansiedade crescendo junto

já era túrgido, aparente

Era a felicidade não prometida dela

e já quase podia sentir

não que já não sentisse

em todos os poros

por todas as terminações nervosas já menos esquizofrênicas

em tudo

Mas chegou a hora em que devia falar

e declarou, sem mais

E doeu tão fundo

Silêncio

Sal

Doeu fundo

Continua doendo

E vertendo

Parece sangue, mas é só tristeza

E ficava remoendo

Parece choro, mas é só verdade

aquelas palavras

aquelas dores

todas elas

continua ainda

Lembrando — tortura eterna

foge comigo

quando tudo ainda valia a pena.

Lawlieth
Enviado por Lawlieth em 18/11/2011
Reeditado em 18/11/2011
Código do texto: T3342084
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