AUTOCRÍTICA
É justamente minha parte mais secreta a que mais exponho. Dito isso, posso afirmar que sou como um livro: cada dia da minha vida é como uma página virada, porém, assim como num livro que posso retomar uma página, na vida nunca abandono o que já vivi, volta e meia volto em pensamentos. Volto à página anterior e vejo se não ficou nenhum rascunho, uma anotação, isto é, como tenho a mania de rabiscar no livro, seja anotando coisas, ou mesmo, acrescentando parágrafos (para meu entendimento), costumo, na vida, “retomar” algumas passagens. E desse “retorno”, lá no meu íntimo, vejo se não ficou algo para ser melhorado, e sempre há. É assim que conduzo minha existência, em constante balanço. Talvez seja por isso ser eu um pouco contemplativo. Gosto de observar as coisas ao meu redor. Gosto de ver a existência. A graça da criança correndo, do pipoqueiro no parque, do pai com seu filho no carrinho. Gosto de ver o idoso sentado e pensando. Quando vejo um idoso assim, ficou tentando adivinhar no que ele pensa. Sei que ele teve desilusões, mas também teve amores. Teve dias de muita alegria, outros, nem tanto. É isso que chamo de vida. É nesse microuniverso que, acredito, a vida se mostra em toda sua plenitude. Também sei que somos portadores de enormes virtudes e muitos defeitos, somos humanos, não é? É, colocado assim, acho posso ser chamado de normal, mas e senão for? Que diferença faria, se a idéia de ser normal é tão relativa quanto saber se quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha. Saber isso não mudaria em nada, até porque, a idéia de normal, certo ou errado, isso ou aquilo correspondem mais a preceitos convencionais do que à lógica ética. Noutras palavras, sociologicamente e psicologicamente, esses conceitos estão imbuídos de consensos sociais. Mormente, trazem, sem si, certa moral religiosa que, enquanto tal, estabelece mecanismo de aceitação. Não quero dizer que esteja certo ou errado, até porque seria contraditório, mas apenas deixar registrado que não me deixo influenciar por tais paradigmas. Então, e por fim, é minha parte mais secreta que mais exponho, pois, como humano que sou, sei que só posso aprender com meu próximo quando dele eu for conhecido.