AO PALHAÇO (Por ocasião do filme Os Palhaços, de Frederico Fellini)

Quando um palhaço morre,

Também, morrem a criança que temos em nós,

A possibilidade do riso espontâneo,

A ingenuidade pura e simples.

Quando um palhaço morre,

O mundo fica como um jardim sem flor,

Fica nonocor, fica cinza.

Quando um palhaço morre,

Tudo que é exagero fica sem graça,

Sim tudo no palhaço é exagero:

As cores carregadas,

As lágrimas nascem como em bicas ou aos jarros,

O relógio não cabe no pulso, nem na bolsa

Até o riso, ora, é explosivo.

Quando um palhaço morre,

Significa que já não somos mais crianças,

E nos tornamos, adultamente, responsáveis.

Quando um palhaço morre,

Talvez seu testamento seja o mais simples,

Pois, como todo palhaço,

Ao abrir a carta póstuma,

Lá só se encontre a estampa de um grande sorriso.

Quando um palhaço morre,

É hora de dar corda no relógio da vida

E colocá-lo pra despertar na aurora que se aproxima,

Para, quem sabe, encontrar outro palhaço na esquina,

E não permitir que o espetáculo acabe,

Afinal, para o palhaço, morrer é uma grande piada,

Aplausos.