MEU GRANDE AMOR
Meu grande amor,
Como são desnorteantes os caminhos optativos dos nossos corações. Eu carregava, juro-te, em meus olhos a bruma da renúncia do contentamento com uniões vitalícias de amor correspondido e meramente medido. Não reclamava da vida que tinha, muito menos da ausência de plenitude, apenas continuava vagando por entre ruas à espera que um milagre banhasse minha face em tempestades internas de coração: chuvas de amor valem a pena. Enterrei em teus lábios os mais insólitos segredos da minha alma, confrontando os teatros macabros da minha ineficaz tentativa de superar a solidão de cem anos de prisão vividos em meros dias costumeiros. Essa brevidade da vida atrapalha minha razão de respirar. Atos mudos deixados sobre a cama ainda desfeita à espera de mãos que arrumem, ou corpos que a amassem.
Pois então, júbilo da minha alma, me converti ao amor incontestável por ti; nesse casarão de redenção, apeguei-me ao teu cheiro como um animal selvagem em busca da sua presa mais saborosa, e eis que de ti tenho me alimentado com plena satisfação. Preciso, pois sim, confessar meus pecados ao meu ímpeto pastor. Essa paixão, de certo, nasceu para massacrar-te como um réu inocente a cumprir uma sentença que antes dispensara em teus dias de vida, hoje, encasulado em meu peito (bendito seja meu coração). Queimaram ao sol os momentos intemporais em que seres apaixonados permanecem solitários em jornadas infindáveis, perdidos em terra de gigantes; receosos de enfrentar o amor, por isso mantendo-se distantes das gotículas do mistério que é amar.
Loucos, pois vos digo; loucos são aqueles que alimentam a certeza da definição do entardecer de corações rendidos ao sabor inegável do ato mais majestoso: o amar. E aqui lhe agradeço de bom grado, senhor das minhas melhores lágrimas, por dispensar o medo gritante de enfrentar a espada coruscante do sentimento que nos invade, faz moradia fincada na terra em nossa veia, e usa do nosso sangue como fonte de vida para as orquídeas de fogo que sobressaem em nossa pele, como armas brancas de amor. Não iremos nos transmutar em sentimentalismos gastos, seremos apenas diluídos pelo mundo, alimentando e sendo alimentados, como relva, néctar,.. suave ciclo sem fim. Estamos mergulhados, meu amor, nessa concepção devassa de amar, dando adeus às embarcações passadas de contentamento contestáveis de supostas tentativas, do que hoje, chamamos de verdadeiro amor.
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