MANHÃ PLÚMBEA

Era uma manhã plúmbea

Rostos taciturnos transitavam entre outros rostos,

E nenhum olhar ou cumprimento se via.

Andavam apressados para seus fazeres

E garantir a sobrevivência custeada

A parcos soldos

Que não compravam nem o mísero alimento.

Tristes almas

Tristes sonhos

Tristes faces

Nada mais naquele universo

A vida apresentava.

Plúmbeas faces

Misturadas à paisagem igualmente plúmbea

Mais um dia

A transcorrer sem sorrisos

Nos rostos daquela gente, minha gente.

A nódoa temporal anunciando o dilúvio

Que varrerá a poeira

Que se avizinha nos monumentos

E também no ar que sufoca pulmões.

Apenas um drink

No bar sujo e mal frequentado

Por gatunos e meretrizes,

Personagens de romances

De amores nunca correspondidos.

Prédios públicos guarnecidos

Por excelsa pretória milícia

Empunhando a baioneta

Pronta a perfurar o primeiro que se opõe ao regime.

Plúmbea tarde

Vencida por mínimos raios de sol.

Amanhã promete ser dia de alegria.