ALZHEIMER

— Por que fala comigo? Não te conheço!

— Também um dia não o conhecia, vovô

Porém se manteve perto, me educou.

— Como é seu nome? Não me lembro...

— Me chamo paciência. Vim retribuir-lhe

Todo carinho que sempre me dispensou.

— Por que está aí escondida? Seguindo-me!

— Sempre me buscou quando eu fugia, vovô

Agora você sai, e sou eu quem procura.

— Não quero que me siga. Quem é você?

— Me chamo proteção. Como nas brincadeiras

Antigas de nós dois, sempre me protegia.

— Por que dança comigo? Que baile é este?

— Ensinou-me a dançar, é seu aniversário vovô

Tenho a honra de nos seus braços bailar.

— Não é boa dançando. Como se chama?

— Me chamo alegria. Como quando brincávamos

Que eu era uma princesa e bailávamos.

— Por que almoçar agora? Não quero comer.

— Fazia aviãozinho para eu comer tudo, vovô

Precisa se alimentar, fiz tudo que adora comer.

— Nem sei o seu nome. Não sabe o que gosto.

— Me chamo cuidados. Iguais aos zelos que

Teve, quando eu pirraçava pra não comer

— Por que lê este livro? Que história triste.

— Sempre leu para eu dormir, e nesta, vovô

Há um final feliz, como as que me contou.

— Mas como se chama? Não minta pra mim.

— Me chamo amor. Como nos contos de fada

E nas lições que sempre me ensinou, vovô.

Minha homenagem ao Grupo Apoio Alzheimer de Itabirito.

Lilia Costa
Enviado por Lilia Costa em 10/11/2011
Reeditado em 10/11/2011
Código do texto: T3328222