ALZHEIMER
— Por que fala comigo? Não te conheço!
— Também um dia não o conhecia, vovô
Porém se manteve perto, me educou.
— Como é seu nome? Não me lembro...
— Me chamo paciência. Vim retribuir-lhe
Todo carinho que sempre me dispensou.
— Por que está aí escondida? Seguindo-me!
— Sempre me buscou quando eu fugia, vovô
Agora você sai, e sou eu quem procura.
— Não quero que me siga. Quem é você?
— Me chamo proteção. Como nas brincadeiras
Antigas de nós dois, sempre me protegia.
— Por que dança comigo? Que baile é este?
— Ensinou-me a dançar, é seu aniversário vovô
Tenho a honra de nos seus braços bailar.
— Não é boa dançando. Como se chama?
— Me chamo alegria. Como quando brincávamos
Que eu era uma princesa e bailávamos.
— Por que almoçar agora? Não quero comer.
— Fazia aviãozinho para eu comer tudo, vovô
Precisa se alimentar, fiz tudo que adora comer.
— Nem sei o seu nome. Não sabe o que gosto.
— Me chamo cuidados. Iguais aos zelos que
Teve, quando eu pirraçava pra não comer
— Por que lê este livro? Que história triste.
— Sempre leu para eu dormir, e nesta, vovô
Há um final feliz, como as que me contou.
— Mas como se chama? Não minta pra mim.
— Me chamo amor. Como nos contos de fada
E nas lições que sempre me ensinou, vovô.
Minha homenagem ao Grupo Apoio Alzheimer de Itabirito.