Segredo de Confissão
Ah, meu Deus, meu Deus...
O que é aquilo?
É um meteoro a menos de 300 mil km da Terra, mais perto que a Lua...
E sabe o que é isso?
Não é que ele vai passar perto da gente,
mas na porta da frente!
Torça para ele não acenar e resolver ficar!
Vá de retro elipticamente se puder, mas vá!
É isso aí,
E antes que o mundo acabe,
Antes que essa porra toda vá pelos ares,
eu confesso!...
Confesso todos os meus pecados,
Aqueles que fiz,
Aqueles que não fiz,
E aqueles que porventura farei...
É, eu confesso!
Seu padre, olha, eu jurei em vão, eu zoei o barraco,
Namorei, desnamorei, casei e descasamentei...
Fui mais xarope que remédio, e se eu for para o inferno,
Aí é que eu não vou mesmo,
porque nem o diabo está ficando lá,
tá visitando a Terra com tanta frequência que até
arrumou uma casa por aqui...
E eu vou para lá?!?
Sem chance!
Fala pra Deus me arrumar um puxadinho lá no paraíso que eu me viro
Se esse meteoro cair aqui, ou qualquer outro, quero estar limpo com todos!
Pedi emprestado e não paguei... Sei, é uma vergonha! Eu sei....
Perdão se puderem perdoar!
Falei mal do alheio sem pensar,
falei, sei que falei, eu confesso!
E se falam sempre bem, perdoem-me,
perdoem-me a mim também!
Confesso que fui um tijolo na vida!
Não estudei para nada, não inventei nada, Não descobri cura para doença, não me candidatei a nada, e não participei de nada!
Não fiz conta nenhuma e nunca dei conta de mim mesmo,
Um tijolo! Estupidamente tijolo!
E na vida dei tijoladas a rodo!
Posso não saber de muitas coisas, seu padre, mas sei que devo!
Não fiz caridade, nem rezava as minhas Ave-Marias..
Minha Nossa Senhora dos Materias de Construção, perdoai.
Seu padre, eu fumei, bebi, chorei, sorri,
eu toquei o puteiro da minha vida!
Agora me vem este meteoro dos infernos e bum:
Tenho consciência e estou perdido!
Àqueles anos todos, desculpem-me
Àquelas tardes todas, desculpem-me
Amigos que não tive, culpem-me, falhei,
Parentes e agregados, perdoem-me, falhei...
Às palavras que não disse mas deveria, meus sentimentos de lamentação,
Falei tanta coisa de supetão, nem sei se feriu, se matou, se viveu,
a todos que estiverem esperando,
eis o meu pedido de perdão!
Perdão Maria Calábria, perdão Paula Rosa, perdão meninas do amor, perdão!
Agora vou-me para onde quer que não haja amor!
Estou de pescoço duro de tanto olhar para cima,
Para não perder a hora...
Meus amigos e inimigos,
Considderem-se todos perdoados de tudo!
Está tudo muito bem!
E tudo muito, muito certo!
Mas acho que aquela cerveja ainda tem que esperar...
Antes tarde do que quente, já aqui eu confesso!
Confesso ter me achado qualquer coisa qualquer, confesso,
Confesso ter saído sem dizer onde ia,
Confesso, confesso, confesso e confesso!
Seu padre eu confesso que nunca me confessei, mas agora perdoai!
Vem esse meteoro lá do espaço e acaba com a minha vida,
Está bem, Senhor, eu confesso...
Em verdade, em verdade,
tudo eu confesso...