O violão
Sentada, aqui no sofá, vejo reclinado na poltrona à minha frente, um violão.
Ficamos assim um tempinho impreciso nos olhando. Eu prá ele...ele prá mim
E, o mais estranho é que faz-se uma silenciosa comunicação, de alma para alma.
Posso sentir o quanto já foi dedilhado...
Posso sentir quantas almas já deixaram ali suas marcas...
Posso sentir as máguas e alegrias gravadas em suas cordas.
Vejo-o passando de mão em mão, escutando sereno o desabafo de cada um, como se psicólogo fosse e, talvez o seja.
Existe um halo de grandeza em sua postura, reclinado e concentrado.
De mente a mente fala-me de dores e contentamentos... de amores eternos e outros perdidos... de vazios, solidões e, porque não, de suprema ventura.
Fala-me de vidas... tantas .. que por ele passaram, deixando cicatrizes em sua alma triste.
Fala-me de muitos amores... que lhe enfeitaram o existir... e a razão de ser
Conta-me mil histórias engraçadas vividas como cigano pelas bares da vida, encantando e fazendo sorrir. E nos sorrimos também.
Conversando com você violão, esqueço-me de mim. Já nem sei porque sentei-me aqui.
Que tristezas fizeram-me quedar por instantes e perder-me em confabulações com suas lembranças.
Na verdade, não gosto de pensar em meus próprios dissabores e ouvindo seus silenciosos lamentos me acalma a alma inquieta.
Ouvindo seu riso, sua alegria lembra-me as minhas próprias alegrias e faz minha alma descobrir que felicidade é possível.
Ainda fico aqui violão, olhando-o longamente... mas seus olhos fecharam-se.
Precisa descansar