No jardim

E lá estava ela, regando o jardim, com os pés descalços, pensando no tempo que permeara a sua vida naquela casa, na mesma rua, com as mesmas passagens, os mesmos aromas, a vista de morros verdes e a lua que sempre aparecia no mesmo lugar.

Retornou ao passado enquanto a água respingava em seu corpo.

Seguia os conselhos de sua avó: regar o jardim sempre ao entardecer, sob pena das plantas serem queimadas sem dó nem piedade.

Naquele momento não queria dó nem piedade para as plantas e nem para si.

Sabia que o caminho percorrido até ali tinha sido intenso, verdadeiro,

com choques elétricos que não mataram,

algumas navalhas mal afiadas que feriram – mas cicatrizaram e, por outro lado,

rosas desabrochadas,

comidas gostosas,

amores desafiadores,

paixões avassaladoras e

certa paz, angariada com o passar dos anos.

A mangueira d´água a seguia como cúmplice e o pensamento escorria como lágrima.

Uma brisa leve a acompanhou na finalização do trabalho, reforçando a certeza de que a vida é assim:

rodeada por fatos inesperados,

que devem ser relembrados,

sonhados,

nunca maltratados e

vez ou outra jogados em um jardim ávido por água para alimentar o desejo de ver crescer esperanças e energias por um novo tempo.

07/11/11

Escrita para a coluna COTIDIANO do blog: prasnoitesinsones.blogspot.com

Rosalva
Enviado por Rosalva em 07/11/2011
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