[O Olho em cada Instante]
- Se o olho soubesse que cada imagem que ele vê surge apenas uma vez, e logo é tragada na sucessão interminável de outras imagens, talvez se demorasse um pouco mais em cada instante de observação...
- ... Como esse, desta manhã: olho a fumacinha que sobe do leite com café, e mastigo uma fatia de pão com manteiga. Penso... por que é impossível não pensar na tentativa de fazer surgir um certo sabor vigente numa experiência, uma descuidada imagem de manhãs antigas... irrepetível, eu sei!
- Há imagens impossíveis como esta: tenho um estranho costume de ver, sim, isto mesmo, ver a minha cabeça rolando na correnteza de um rio... Sofro das captações de imagem que eu vi quando contemplava o Rio Paranaíba na apojadura das cheias de verão, na aguada dos bois da Fazenda Barreirão. [Em tempo: foi acidente, não quis rimar não, eu detesto, eu odeio rimas - coisa menor!]
- De certo que a gente não sabe que sabe que o olho literalmente fica [parado] na fuga de um instante, e para sempre, tenta uma reedição imagética, se se pode falar assim - impossível, angustiosamente, impossível!
[Desterro, 07 de novembro de 2011]