[O Olho em cada Instante]

- Se o olho soubesse que cada imagem que ele vê surge apenas uma vez, e logo é tragada na sucessão interminável de outras imagens, talvez se demorasse um pouco mais em cada instante de observação...

- ... Como esse, desta manhã: olho a fumacinha que sobe do leite com café, e mastigo uma fatia de pão com manteiga. Penso... por que é impossível não pensar na tentativa de fazer surgir um certo sabor vigente numa experiência, uma descuidada imagem de manhãs antigas... irrepetível, eu sei!

- Há imagens impossíveis como esta: tenho um estranho costume de ver, sim, isto mesmo, ver a minha cabeça rolando na correnteza de um rio... Sofro das captações de imagem que eu vi quando contemplava o Rio Paranaíba na apojadura das cheias de verão, na aguada dos bois da Fazenda Barreirão. [Em tempo: foi acidente, não quis rimar não, eu detesto, eu odeio rimas - coisa menor!]

- De certo que a gente não sabe que sabe que o olho literalmente fica [parado] na fuga de um instante, e para sempre, tenta uma reedição imagética, se se pode falar assim - impossível, angustiosamente, impossível!

[Desterro, 07 de novembro de 2011]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 07/11/2011
Reeditado em 07/11/2011
Código do texto: T3321667
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