TIRANDO A PEDRA DO CAMINHO.

Por Carlos Sena


 

O que dá pra rir dá pra chorar. Mas a vida não caminha no viés do choro ou do riso e, por isto, cada um deve se buscar por dentro para descobrir o “meio” desse processo que permeia a maravilhosa odisséia da vida. O “meio” da vida, o limite dela, a intersecção entre os sentidos e o que sentimos é complexa. Talvez até nem consigamos totalmente, posto que a vida é breve como uma nota musical – até mesmo semibreve, semifusa, semicolcheia. Há notas na vida que são em dó – dó maior ou menor. Talvez o que nos anime seja a canção em sol: maior ou menor, o sol será sempre a tonalidade dos nossos limites na canção da vida que queremos entoar. Nem muito ao céu nem muito ao mar, mas o meio termo que dá vida ao ermo e que faz da nossa roupa cotidiana um terno – eterno conspirar da vida por ela em sua morada singular.

Os plurais da vida
Não nos dão ávida luminosidade do futuro.
Há singulares expertises  que nos marcam e que
Do ferro em fogo, mais ferro do que fogo
Afogam-nos mágoas,
Aprisionam-nos em tarjas amarelas dos entardeceres.

 
No meio do caminho tem uma pedra. No meio da rua tem um “U” da única aventura que não podermos abrir mão dela – a felicidade. Há pedra em cada caminho, há Drummond em cada pedra pra nos lembrar que “Tu és Petrus e sobre esta pedra edificarei a minha igreja” – disse Jesus como que nos preparando para a pedra e para o caminho. Atire a primeira delas quem não tiver pecado. A pedra jogada pode não ser do pecado, pois que nem todo pescado redime o pescador de uma pescaria fraca.
A fraqueza humana está no princípio e não no fim. O fim do humano se subordina aos mistérios da fé. Esta, enquanto fé sustenta-se no que não serve pro outro, posto que do outro me venha a certeza da sua fé sem rescaldos de perdão. Os plurais da vida são os passos que me levam para destinos nunca por nós esperados. Isto posto, define-se que o futuro a Deus pertence, mas ao homem pertence a construção do presente em busca do “meio” do caminho, mesmo que nele existam pedras...
O que dá pra rir dá pra rir também. O que dá pra chorar pode ser que a outrem passe despercebido… A percepção do homem sucumbe o tempo e o torna atemporal. Imortal, por que não dizer? Moral, por que não fazer?