A ÚNICA REALIDADE PLAUSÍVEL
A única realidade plausível de nossa existência, é que ela nos obriga a compartilhar deste mundo. Nossas queixas não são nada frente às queixas caladas dos ignorados pela própria existência. São como zumbis que perambulam pela vida e dela não tiram nem as tristezas. São, por assim dizer, semelhantes a papel em branco, nessa vivência não registram alegrias nem frustações, não percebem a chuva molhando o fértil solo, que à frente ofertará a colheita. Também não aplaudem os primeiros passos da criança, ou, ainda, não ouvem as histórias do ancião. Ora, saberão disso se pela vida andam perdidos? Essa é a única certeza, meus amigos. Nossos compatriotas trovejam a brados pulmões que não querem nada, só existir. Disso sabem mais que todos os filósofos.
Ah, quanto é desgastante ter essa certeza, certeza que empurra para frente soluções que dependem de hoje para que amanhã o sol nasça. Estou farto, me disse, certa vez, um moribundo. Disse com lágrimas nos olhos, e suas lágrimas diziam que não queria partir. O que fez ele da vida que teve, perguntei calado. E uma lágrima também correu dos meus olhos. Também fiquei farto, fiquei exausto por aquele momento. Pensei em partir daquele quarto, pensei nunca mais voltar. Mas voltei para a despedida. E assim, novas certezas surgem. A certeza que nada é eterno, posto que é na alteridade que a vida se refaz. É nesse constante movimento que pinceladas de felicidade dão à vida novas cores e novos sons. É o mais belo quadro que nenhum Da Vince pintou, ver o sorriso de uma criança. Não existe biblioteca mais rica que ouvir, ao pé da varanda, de um banquinho, ou, mesmo no chão, as lições de um ancião. Ora, então, a única realidade plausível de nossa existência, e não podemos, ou melhor, não teremos argumentos convincentes para negar, que a única realidade plausível de nossa existência é justamente que não temos como não compartilhar, pois, nascer já é.