SOBRE O NADA

Enerva-me as flores secas da Primavera

E o frio insistente a me roçar o peito enquanto durmo

Nos meus nefastos sonhos em chuva mesclados

Salto como rusga de um passado de essência turva

Não são mais azuis as águas de Amaralina

Nem me enrubesce a face os carinhos roubados a caminho do nada

Troquei as traças pelo cheiro adormecido da naftalina

E, ainda assim, meu sossego se faz esparso

Sinto vontade de saltar do topo onde nunca estive

Mergulhar na escuridão dos rios de cobre da Chapada

E caçoar da minha falta de senso que costumava chamar amor

Escrevo sem linha que se trace

Sem nada que me faça trocar o tropeço pela areia movediça de logo mais

Não tenho mais tempo

Não tenho mais nada

Lembranças são fuxicos feitos ao lado da cigana velha

Enquanto adolesciam os meus sonhos infantis

Mal cuspi a vida e a vida já havia escarrado em mim.

E tem sido assim

Um descomeço

Um medo de ser sem ter sido nada que valha

Uma barba por fazer a me incomodar no meio da noite sem sabor

Feito gelatina estragada em meio a morangos apodrecidos

Estou mofando na geladeira antiga

E nenhum fruto me traz o gosto que imaginava haver em tudo o que tocava e, sem saber, virava veia sem sangue e pele sem viço.

Iza Calbo
Enviado por Iza Calbo em 05/11/2011
Código do texto: T3318826
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