SURREALISMO

SURREALISMO No crepúsculo da tarde outonal, a recordação romântica dos versos neste deslize imenso do dia; as mãos lavram as páginas deixando a fissura própria duma imagem, das margens em palavras até aos mecanismos surreais; será sempre assim, quase assim, escrever é inventar um outro rumor possível como a luz ou o corpo; como às vibrações do vento fica o cabelo esvoaçante na invenção de um léxico poético – a paixão de alguém em sensações concretas; vejo a memória e os seus vocábulos, insinuo, por um corredor de sombras, o que falta dizer à emoção em apontamentos que seja aéreo com as aves pela névoa; as letras errantes sobre a claridade do papel, mais velozes do que sentir fosse um relâmpago; mais intensas que o pulso aberto num instante; cai a noite pelas ampolas da solidão, a água da chuva - deve ser - o som das fontes.