Temporal

Os olhos já brilhavam de novo. Brilhavam como pequenas luzezinhas de felicidade, crianças diante do presente favorito. Desejara tanto sentir de novo aquilo que nem sabia direito o q era... Até que, enfim, aconteceu. E seu coração batia forte de novo, e seus sonhos falavam de amor outra vez. A vontade de mudar o mundo, de parar o tempo, de ser feliz, de fazer feliz... De onde vinha tudo isso? Talvez nem tivesse ido embora... Talvez, estivesse tudo ali guardado dentro de alguma gaveta do coração...

Saiu de casa feliz, decidida a se abandonar nesse sentimento, embriagada pela sensação que a fazia leve, praticamente levada pelo vento. Nem reparou o caminho, os carros, as sombras, a chuva que despontava no horizonte... Esqueceu dos problemas, dos medos, das dores, sonhos antigos... Só queria sentir, viver, deixar pulsar em seu corpo o sangue e sentir que, antes de tudo, ela estava viva. Na suavidade da brisa e não na ventania do temporal.

A chuva começou, ela nem percebeu. Quando viu, seu corpo estava molhado, as roupas gotejavam água da chuva. Sentia-se tão livre que nem se importou com as pessoas que a olhavam com estranhamento... Sua boca, seus olhos, tudo sorria. Pra quê se preocupar com um mundo que nunca se importou com ela antes? Sorria, cantando pelas ruas da cidade ao encontro dele.

Era tudo tão perfeito em seu coração que ela nem reparou nas imperfeições do real. O temporal piorou, a chuva atrapalhava a caminhar... Um pressentimento ruim, uma dor. Pôs-se a chorar. E suas lágrimas faziam brilhar seus olhos, lavava sua alma. Era como se todas as suas dores e angústias voltassem de uma vez só, sem que elas percebessem...

Parada, em frente a janela, sentia seu coração se quebrar: dois, quatro, doze, mil pedaços... Nas mãos, uma carta. Na alma, uma ferida. Incoerência. Tudo se tornava insipiente. Não era ela que estava lá, não era ela... Ela queria que fosse, mas já não podia mais. Seu corpo era poeira, insólito, intocável. Seu coração, como queria ouvi-lo bater!

De olhos fechados, em prantos, voltou. Ele não a amaria mais. Mas ela sonharia com ele. Eternamente, velaria por ele. Porque nem todas as canções de amor têm um final feliz. E a sua também não teria.

Sabrina Araújo
Enviado por Sabrina Araújo em 29/12/2006
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