O vento (confidências)
O vento acompanha-me nas andanças enquanto estou imóvel e vagueio pelo desconhecido...
Quando fico só e nenhum som escuto, é o murmúrio do vento que conta a mim as histórias perdidas de lugares longínquos.
O vento, que atravessou o espaço e conheceu terras e povos vários; o vento, que atravessou o tempo e conheceu civilizações extintas e pessoas que já não vivem. As vozes emudecidas falam de novo pelo vento...
Ouço-o às vezes chorar mansamente... o vento chora calmo as dores passadas que presenciou; chora perturbado as dores presentes das coisas que vê. Sua força balança as árvores, os fios elétricos, os vidros das janelas, as portas abertas; invade praças, casas, meu quarto, minha cama, as folhas de papel que em minhas mãos tremem – e, enquanto expressa num desabafo seu sofrimento, lágrimas molham meus papéis.
Algumas vezes o vento sorri com uma ternura afável quando a brisa acompanha o canto angelical dos pássaros.
E é no instante em que o silêncio se alastra no vazio da noite, quando todos dormem, ou em algum lugar em que ninguém mais esteja e não haja outra voz ou presença, que o vento se torna meu maior confidente e trocamos segredos enquanto o inspiro.
O vento envolve-me enquanto estou só. Suas narrativas contadas a mim são fascinantes, dramáticas. Respiro-o e, em troca do que entra, sai de mim o que me faz mal quando expiro – e fico em paz.
Ó vento, atenderei a teu doce pedido – o de, em minhas folhas, transcrever um dia tuas dores e façanhas, tuas histórias sobre o mundo que eu não vi.