LÁGRIMAS FORTUITAS

 

Palavras?!!!... Ora, palavras! Palavras eu já as ouvira! Soavam tão crentes quanto vãs promessas! Lágrimas não: traduziam verdades da alma!

 

Tremia ao ver tuas lágrimas. O lenço corria pelos cantos de teus olhos absorvendo límpida emoção de sinceridade incapaz de ser dita por teus lábios, mas que me era confessada emudecida e sinceramente pelas lágrimas que brotavam de teus olhos.  Os soluços se entoavam ligeiros, abafados pela cabeça abandonada para o lado do corpo.  As lágrimas cristalinas condensavam a verdadeira essência da verdade!

Apertando tuas mãos carinhosamente pousava meus lábios suaves e trêmulos em teus negros cabelos.  Reconfortava-a:

“Recomponha-te, não chores mais... por favor!

Tremendo ao ver teus soluços,/ sobre tua cabeça debruço,/ lágrimas me causam pavor./  Riso aberto  causa medo,/ olhar de piedade  triste enredo,/ infeliz maneira de proceder.

Antes, minhas pobres mãos acariciando-te, pobres!/ Simples, ingênuas, quietas,/ não conheciam justiça,/ em cada uma delas a cobiça,/ de simplesmente amar, dar carinho e fé.

Meu todo ser ouvindo-te/ não conseguia distinguir duas simples realidades:/ o que era mentira o que era verdade,/ por um ato de caridade,/ o que era o bem e o que era a maldade?

...

 Estas lágrimas não são minhas,/ mas são cristais que tu retinhas/ afortunadas a esclarecer!  Olhe esta lágrima fina,/ disse tudo por você, menina,/ o que nunca conseguirias dizer-me!/ Teus olhos flébeis tristonhos,/ em cada um, novo sonho,/ por esta verdade divina --- chorar!

 

O céu constelado piscava cúmplice à nossa solidão, deixando os soluços pungentes de Maria quebrar a quietude à nossa volta.

 

Um beijo selou a última cena no jardim. Lágrimas quentes que ainda afluíam de teus olhos molhavam ternamente nossas faces coladas, escorrendo lentamente de tua face à minha indo às comissuras de nossos lábios, dali agasalhando no regaço de teus seios.  

“Maria, não chore mais!”

E saímos abraçadinhos.