TORRÕES DE AÇÚCAR
Comi um pouco de minha terra fértil num pequeno pedaço de fruta.
Bem sei eu, que em cada bagaço desta cana de açúcar,
estão adubados os calos das mãos de meus antepassados.
Daqueles canaviais eles colheram e separaram bons talhos,
reservando-os em pequenas caixas destinadas a mim.
Espero e assumo que deste suco bendito
saiba cozinhar infindáveis caçarolas de melaços.
Hei de aprender a transportá-los aos moldes e transformá-los em
quadrados de torrões de açúcar.
Poderei eu administrar esta ebulição de mel castanho,
com o fogo e a madeira de uma terra vermelha?
Nem sei se sou digna de receber uma planta completa
enquanto outros se saciam com um quarto de folhas.
Mas eles e ELE não deixam de observar-me discretamente,
enquanto continuo forjando e fincando o açúcar dourado
em minhas letras pequenas.
Seguirei tecendo, dos momentos em gerúndio verbos doces,
tentando libertar à imaginação daqueles que ainda estão por ser.
Nota: Esse texto está inspirado na crônica O ENGENHO- TEMPOS INESQUECIVEIS, do recantista Antonio Teles Zimerer.
Agradecimentos a bela lembrança e interação de EDNA LOPES:
"O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre".