Desabafo a um Inimigo
Perdendo passo,
Cheguei aqui andando em círculos confusos, confuso como ninguém,
A luz que queria acender não existe mais,
Tamanha tristeza não tem explicação,
As coisas bobas que faço e digo se perdem com o passar dos anos, envelhecendo como arvores,
De verde só resta à esperança,
As folhas estão caindo rápido demais, estou ficando sem forças, sem voz
Temo em tentar resistir, brotar frutos,
Temo em teimar a ficar em pé,
Temo em temer,
Tenho medo de mim mesmo, tenho raiva de mim mesmo,
Tenho a mim como um inimigo oculto que me limita, me suga, que me faz rezar por um milagre inútil,
Me coloca em segundo lugar em uma corrida solitária,
A minha maior decepção é saber que o único culpado disso sou eu, e não consigo reverter o meu ciclo de fracassos,
Frases tortas me seguem, um lobo uiva nos meus ouvidos a noite, me amedronta como um carneiro perdido,
Meus pez são frios, cansados,
A manhã se mostra como uma noite que nunca acaba, nunca um renascer, sim um desfazer,
Nobre inimigo, carrego teu fardo em mim,
Você me faz completo, me deixa sempre a beira do abismo e não me deixa atirar-me a meu fim,
Mas faz medroso e abduzido a um mundo de mais ou menos,
Um mundo sem razão de existir,
Nobre inimigo indestrutível,
Um parasita covarde que não me liberta do mundo sem face, que idealizo com a falta de coragem de encarar a mim mesmo.