NINGUÉM ALÉM

Não será pelo medo, porque não sou eu que o sinto, nem sou eu que o quero... Perdi-me dentro da caixa escura que tentei fazer lar, que tentei tanger ao máximo. Perdi-me também, mesmo que nunca me tenha achado, em pensamentos novos e tão velhos ao olhar de quem nem me conhece... Julgamentos... Quisera, quando a esperança tinha gosto de novo, de real, a adstringência apertando a minha língua, como num beijo apaixonado, talvez só de compaixão... Mais que de paixão... Quisera em mim mesmo criar o ambiente perfeito para cultivar sementes que se afundaram na terra mais se escondendo desse mundo do que querendo reprodução, multiplicação... Mas falar o meu desejo solto no tempo não dá razão a nada disso, pelo contrário, faz meu sangue formar em suas poças pelo chão nunca limpo, símbolos que agora nem eu sei o que significam, ou significaram um dia... Eu sei que ouço aquele menino toda manhã e ele está cansado de tentar despertar-me sempre debalde. Esse menino não conseguiu crescer, não conseguiu querer crescer para ser forte o suficiente para esquecer... Esse menino sabe por que não pode ser pelo medo... Onde ele estará agora? Tarde... O sabor é doce, melhor agora, curto espasmo do meu bem-querer, mas deliciosamente provocante pela novidade velhíssima e pela saudade de qualquer coisa boa... Se o sentido deve ficar oculto para que o Amor aceite o amor, não admito que seja pelo medo... Ou esse menino para de sangrar agora, desenhando com tinta vermelha a antipatia desse futuro incerto, ou das duas uma: Acordo desse sonho e morro acordado, ou durmo sem sonhar morrendo de saudade...

Maurilo Rezende
Enviado por Maurilo Rezende em 23/10/2011
Código do texto: T3293037
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