[Dizem-me...]

Dizem que sou, às vezes, desconexa, claro! Dizem que toda mulher tem suas falas (digo, aparentemente) desconvexa, veja: no meio de uma conversa linear e completa eu mulherzinha ordinária que sou digo: e esses lírios não são lindos? ou pergunto: você gostaria de se iludir de manhã onde a névoa exerce o nascer do sol? ou ainda quem diria que a garça é que passarinharia no tumulto antes do túmulo! ah, que eu não estou totalmente louca, só um pouquinho para que a insanidade não me seja. Fico gemendo às tábuas de ruínas no longo amanhecer onde rabisco provérbio chinês, mas eu paro e silencio diante do portão da rua e a face cai e o sorriso como um poema triste de sangue e dor e corte e morte feito flor murcha nos braços nos pés de todas as senhoras. A estrada foge pálida e eu avanço hórus no horizonte. Hora com um sorriso atrás do véu ora sem a menor intenção de coisas e pouco importa se ora com h ou hora sem agá era com h ou hera sem h. Desconexa é essa sombra que me guia no austero exílio dessa travessia inútil e insolente.

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 21/10/2011
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