O anjo
Ele tinha que cruzar as linhas.
Nunca as havia visto antes.
Elas cruzavam o céu em todas as direções.
Eram de todas as cores;
De todas as intensidades e espessuras...
Como cabos.
Umas um tanto esticadas
Outras mais flácidas
Umas, sinistras, pareciam dar choques
Outras suaves, quase acariciantes
Pareciam teias
Redes
Dispersas em algumas partes
Agrupando-se densas em outras
Seu medidor de tensões oscilava ao passar por elas
Emitia ruídos
Ora eram quase doces canções
Noutras gemidos e sussurros
Mais adiante silvos e roncos
Ou então harmônicas melodias
Seu vou continuava rápido e ondulante
Entremeando
Cruzando
Atravessando
Agora, passados os conglomerados urbanos, eram mais raras
Com as imaginadas extremidades desaparecidas no horizonte
Terminado o seu trabalho
O anjo retornou ao infinito com a sua caixa
Repleta!
...Do inventário de nossas emoções