Eu, sob meu domínio

“O que o ser humano mais aspira

É tornar-se ser humano”

(Clarice Lispector)

Eu, Clarice, lembro-me

Como se fosse um desvio

O encontro que tive

Com Sartre, em janeiro, no Rio

Disse-me o filósofo:

“O horror sou eu, diante das coisas”

Seu olhar me perturbava, enquanto falava

Desconfortava-me o cachimbo

Sentia-me escrava do anteontem

Um espectro disforme no limbo

Quando virá a alforria?

Depois do crepúsculo, raso e impassível?

Diante da alvorada nova jornada se inicia

Organizando-me entre frases, sendo hermética e acessível

De súbito, meu corpo torna-se uma extensão dos sentidos

Alcanço o espaço e aumento minha capacidade

Sequência desordenada numa dimensão em superfície

Com sinceridade, falo da vista, sou uma artífice

Ah, a dor...

... Emana

Diariamente após as 17h00, emana

A dor do apontamento

Sou humana, não quero ser manuseada

Antes, como um lápis apontado

Descobriram minha essência delicada

Essência das cores que possuo, meu legado

Era planta baixa desenhada pelas próprias mãos

Reconstruí-me entre linhas retas e paralelas

Traços na superfície horizontal edificada tornaram-se constelação

Mãos corretas, faixas grafitadas cobrem minhas janelas

... Morro em vão?

*A Clarice Lispector e Jean Paul Sartre

Marciano James
Enviado por Marciano James em 20/10/2011
Reeditado em 22/10/2011
Código do texto: T3288743
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.