CREIO

Creio na inocência e na maldade

No amor real e no inventado

No que pensamos ser e no que, de fato, somos

Creio nas paisagens

E nas estradas castigadas pela solidão

Nas fadas das histórias que me contaram

E nas bruxas que me assustaram o sono

Creio no sentimento bruto

E no que se possa lapidar

E, até mesmo, na impossibilidade de se encontrar algo além da crueldade

Somos todos imperfeitos

Somos canastras perdidas de um jogo sujo

Sei que não posso manipular as almas de quem amo a meu favor

Sei que o amor que perdi não está no que encontrei

Que todo amor perdido é uma ausência infinita no âmago do desejo

Ainda assim creio no amor que sinto

Nos amores que tive

Nos que tenho

E, se o inimigo estiver por perto, acredito na capacidade dele em me apunhalar

Não por raiva somente, mas por instinto também.

Tenho sonhos terríveis

Sonhos amáveis que tento guardar no travesseiro

Pesadelos nunca apagados por conta das mágoas do passado

E o rosto trazido de volta

Nas noites quase insones nas quais somente a minha companhia se estende na cama

Creio em filhos que amo

Em filhos que não me amam

Em filhos que tive

E nos filhos que terei por escolha

Desacredito de quem se diz arrependido

Quando este arrependimento aparece nas palavras jogadas ao vento

Nas faces das redes de relacionamento

Onde muitos algozes posam de cordeiros de Deus

Creio na Divindade que me conduz

E também nas fontes de energias opostas que me afastam da fé

Sou completamente humana

Admito erros, comemoro acertos nem sempre exatos

E, ante tudo, ainda abro os braços para afagar desafetos

Não acho o mundo impossível

Acho que somos o impossível no mundo

E, se muito tenho de tempo,

Deixo passar à mercê das inúmeras esperas

Um dia, quem sabe,

Talvez nos encontremos num cruzar de olhos ou de ruas

E ai toda a fantasia fantástica das fábricas de chocolate de meu pai

Arrancando doces do meu ouvido de criança perdida

Ganhem o pulso absoluto para que mesmo o vazio da ilusão seja tecido com o linho do Eterno.

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Iza Calbo
Enviado por Iza Calbo em 18/10/2011
Código do texto: T3284818
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