[Cacos de Pobre]

[Eu não crio nada;

apenas transformo em palavras

coisas do mundo que eu vi]

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Na prateleira da casa de gente pobre,

esses cacos de louça ajeitadinhos,

com quebraduras já escurecidas...

Essas pequenas latas de bordas amassadas

para não cortar os lábios,

preciosidades areadas com esmero,

o vasilhame de servir o leite com café!

Ah, e as vasilhas de alumínio já sem alça,

mas brilhantes de se pentear o cabelo;

as panelas de ferro, de alça de arame grosso,

todas pretinhas, pretinhas — limpíssimas!

[Na mais barrigudinha delas, cozinha-se lentamente

o feijão que ficou de molho desde ontem...]

As latas de bolacha doadas

pelo dono do armazém da esquina,

agora guardam os parcos mantimentos,

todas brilhantes, sem mancha alguma!

[Na lata do canto mais alto da prateleira,

guardam-se as quitandas assadas na sexta-feira...]

O que há além dessa pobreza,

qual o mistério da transformação

de cacos, refugos dos lares ricos,

em objetos essenciais do lar pobre?

O que é que os meus olhos não veem

na resumida simplicidade dessa prateleira?

O que é que tanto me comove até às lágrimas?

[... e da minha velha Minas, verte o mundo até hoje!]

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[Penas do Desterro, 23 de julho de 2001]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 18/10/2011
Reeditado em 18/10/2011
Código do texto: T3283287
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