Enquanto uma mão me afoga, que a outra balance o berço.
Na alcova luzidia
De minha doce vida,
Uma mão me asseia,
Outra me lambuza e destempera.
Enquanto um beijo me estala a língua,
O futuro empresta do mar o enigma
E das cavernas, a obscuridão de agora.
Se a mão primeira pelo meu corpo passeia
Em suas viagens de enleio,
A outra me vem vigorosa,
Causando furor e confusão.
Assim, me vejo entre extremos.
E desses pólos distintos
Não sei qual mais falta fará,
Pois um me seca a boca
E o outro me molha a alma.
Enfim, que seja assim:
Enquanto uma mão me afoga,
Que a outra balance o berço.