ENTRE A PROSA, A MÚSICA  E A POESIA

Por Carlos Sena

 


Tem dias que me pergunto quem sou. Há dias que me respondo o que nem me perguntei. Ainda há outros dias em que me faço perguntas sem ter respostas, enquanto noutros me respondo por coisas que eu nunca sequer imaginei existirem. Tem dias que a gente imita Chico sem medo, como se na sua canção fossemos o porta-voz: “tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. A gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu”...

Tem dias que são noite dentro de nós
Tem dias que, dentro de nós são primaveras
Tem dias que, quem dera um aceno e tudo já era!

 
Como tem dia tem noite, tem açoite e galhardia. Como tem dia tem noite e eu daqui pensando em que momento me adentraste e em que momento tu nunca foste. Entre chegar e partir o momento é tênue – só a dor nos invade no calor da alma. O momento de quem chega não é o mesmo de quem vai embora. Afinal, quem sabe nem sempre faz a hora, mas a hora não revigora o rosto que se dobra ao tempo no somar dos janeiros existenciais.
 
Tem dias que são
Tem dias que vão
Tem dias que nem
Tem dias que cem
Tem dias que quem?

 
Adiantem o relógio da parede do meu tempo. Um ponteiro passa na ponte do passado – o das horas. O outro ponteiro deixe-o passar no bonde do futuro para que passado e futuro ajudem a encontrar meus pedaços levados em cada segundo para destinos ignorados. Na ignorância do destino, quero apostar minha sabedoria humana. Por ser humana, pecadora; por ser pecadora, mortal, por ser mortal imoral – para que na imoralidade se eternize o pecado venial.
 
Tem dias que tenho eu, tem dias que tem você. Tem dias que não tem ninguém, nem cruzado nem vintém. “Se hoje eu sou estrela, amanhã já se apagou; se hoje eu te odeio amanhã te tenho amor”. Pode ser que hoje eu seja da água o pingo, amanhã seja dela a enxurrada. A gota d’água, quem dera fosse, sendo da vida nunca o amargo, mas o seu doce... "Já te dei meu corpo e minha alegria, já estanquei meu sangue quando fervia"...


PS. Pequenos trechos de letras de música de Ney e Chico Buarque, etre aspas.