SEGREDO - PARTE III

Como um náufrago que no mar revolto agarra-se com força à madeira que flutua e nela percebe um raio de esperânça, percebi na luz fugaz daquele olhar a certeza de que não morreria na solidão, que não muito longe havia terra firme, onde eu poderia senti-me seguro.

Atirei-me cegamente naquele sentir sublime, para redescobrir um mundo que eu, embora já possuísse, ainda não conhecia verdadeiramente. Deixei-me conduzir por aquele olhar angélico, certo de que me levaria ao Olimpo das delícias.

E estava certo. Embora fugaz, a luz daqueles olhos inaugurou em mim vida nova; foi, de fato, um novo "FAÇA-SE". Aquele sorriso breve tinha o encanto de mil capelas de flores. No êxtase daquela visão maravilhosa percebi, de súbito, que no peito ainda um coração pulsava gestando um amor que eu supunha não mais ser possível. Senti um calafrio, um estremecimento, uma agitação interior que me turvava o pensamento e misturava em mim as sensações de fogo e neve. Era o espetáculo maravilhoso da gênesi de um sentir supremo.

Deixei, então, levar-me por aquele olhar, como uma nuvem ao sabor do vento, como um fio de água que corre ao gosto do declive, certo de que, ao fim, encontrará remanso; soltei-me ao gosto do coração, certo de que ele me conduziria ao encontro da minha alma irmã, ao ponto em que os seres se fundem na reciprocidade fecunda do amor.

Abnel Silva
Enviado por Abnel Silva em 13/10/2011
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