A arte de afastar as pessoas.
Talento nato para repelir alguns e apaixonar outros, isso tinha de sobra, mas faltava o dom de cativar, como no livro predileto.
Tïnha tudo para fluir com naturalidade, uma amizade nascida de certo descaso, até de repulsa momentânea. De onde vinha então essa afinidade entre eles? De vidas passadas? Da batalha de egos literários?
Não importa mais... Se afastaram, se perderam um do outro no meio do temporal de vaidade egocêntrica que causa certo "déjà-vu", como alguma voz que sempre sopra aos ouvidos: "te avisei", mas que ela insistia em não ouvir.
A verdade é que sempre quis mais do que podia, sempre sonhou com mais do que teria, enfim, opostos, ele com os pés totalmente no chão, pregados, um coração machucado, marcado pelo passado e ela sonhaqdora, romântica e infantil. Abobalhou-se com as palavras, queria estar com ele, ouvi-lo, lê-lo, sentí-lo... e não podia simplesmente porque ele a repelia.
Com que intuito então se aproximou dela daquela forma tão cativante a raposa em que se transformara, usurpando a beleza do carinho que ela nutriu por ele um dia e transformando em um ódio-amor aquele sentimento que fora apenas um dos dois, o segundo... Sim ela o amou por determinado período de tempo indeterminado.
E prosseguiu por um período sonhando em sentir aquilo que ambos desejavam, mas que só ela admitia.
O óbvio aconteceu, esfriou como uma sopa numa noite gelada, que nem se faz necessário soprar antes de sorver... Apenas um gole, um beijo, mas nada mais fez sentido a partir do último momento juntos.
Não existem culpados, nem mesmo o destino, que se mostrou cruel e traiçoeiro, pode ser responsabilizado pela partilha dos sonhos a dois sonhados por ela.
Tantos planos, tantas vontades, vinhos, pêssegos, chocolate, êxtase... Sentidos aguçados, pele eriçada, uma voz chamando no meio da escuridão produzida pelas sombras de sua vida. E nada mais existiu desde a última canção escondida num instrumento empoeirado, abandonado em qualquer canto do quarto, um violão sem acordes e as letras "a" faltando por conta de uma luva que aquecia as mãos.
Belas canções antigas e tristes compartilhadas em momentos de solidão, e uma nuvem de desejo pairando, sensível e sublime, além do seu alcance, bem acima do seu mal.
E o que tem pra hoje é uma espera, um suplício, ou até mesmo uma súplica de que o tempo se encarregue de fechar as chagas que este pseudo amor produziu... Por enquanto...