" O LEQUE "

QUADRO VIII

( Monólogo da peça musicada: "ressurreição dos Velhos Carnavais")

= " O LEQUE" =

(Com a cena ainda escura, o foco incide, a princípio sobre o leque.)

ATOR TRAVESTIDO:

Em um solar da rua dos “ricaços”

-Bairro singular –

Sexta feira, noturna alegria: / O sarau vai começar! / Tempos de antigamente / Romantismo e canções / Falsos condes magricelas / Dissimulados figurões / Damas de jóias e fitas /Cada qual mais bonita / Pelas bordas do salão!/ Sempre “catitas” /Escondiam-se serelepes, / Protegidas pelos leques importados do Japão! / Leques reluzentes / Que cobriam sutilmente / Excessos da visão... / Por trás “do não devia” Os leques fingiam / acobertar timidez / Mentiras instigantes/ Que cobriam ofegantes.. / Um olhar de cada vez / E os leques triunfantes / Em compassos operantes / De forma paradoxal/ Escondiam com jeitinho/Todo o charme sensual!/ Fingindo que não entendiam/ Serem os alvos do local / Da cobiça dos moçoilos / Ao aconchego carnal/ E outros demais suspiros/ Cheios de “edicétera” e tal ! / No espaço iluminado / Requintes de sedução / Um “Narciso” apaixonado / Beija o espelho da ilusão! /

(G.Pausa)

No solar do Sr. Pafúncio / Rasga-se em seda o anúncio: / Das falas que estão por vir... //

Senhoras e Senhores / Para total deleite: /

Madame “Eufrásia Blanche La Verne / Mistura de artista e enfeite / Prima dona, atriz, Mulher

beneficente / Da ópera de Paris /Pede licença para brindá-los com trinados sutis/

Portanto, brindemos “La Verne”, / Que quase nos escapa por um triz/ Brindemos este presente..,./ Rouxinol aclamado / Da ópera de París!/

Para ouvir sua voz canora, / Imploro aos sensíveis ouvidos, / Nem sempre teremos a sorte / De ouvirmos seu canto preciso! / Com vocês. Sem mais recheios: “Madame Blanche La Verne!”

Nesses entrementes / Com gestos reverentes / Curvando-se sobranceiros / Gentis cavalheiros / Tomados por inteiro / Pelo calor da emoção / “Babavam” tremiam de tanta emoção! Por instantes esquecidos de qualquer reflexão / Deram os lados,/ Deram as costas / Para os leques das damas do salão!

...E a voz da supra dita / Era de fato a mais bonita / Das vozes então ouvidas / Pelo menos até então... Por isso nada rogada,/ Como rainha declarada, / Roubava das aprendizas! / No julgo das infelizes / Toda e qualquer atenção! / - Três lolie! Três jolie! / - “Sucrerie de noix de coco!” / Murmuram rapazes / Ensaiando francês... /E a esposa do Queiroz / Mordendo frases vis... / Contorcia enciumada os cabelos do nariz!

- Atrevida! / Insolente! / Dizia entre dentes, / Uma senhora gorducha / / Movida pelo despeito / Diante do agudo derradeiro / Do soprano ligeiro / Sob “palmas robustas ” Os leques rapidamente / Movimentaram-se ligeiros / Recomporam-se altaneiros / Invocando mil defeitos / De um modo, jeito indecente,/ Num fuxico renitente / Que “La Verne” mulher atraente /

Tornara-se de repente, / diria levianamente, / Amante do Sr. Pafúncio, / Dono do solar. ! / Leques, leques reluzentes / A bailar nervosamente / Na linguagem dos sinais... / Leques, leques do disfarce / De um tempo que não volta mais! / Leques apaixonados / Trêmulos enamorados / Que palpitam corações... / LEQUES, LEQUES DE AÇUCENA / CHEIRANDO A CRAVO E A VERBENA, / ERAM ROSAS DO SALÃO! /

RONALDO TRIGUEIROS LIMA
Enviado por RONALDO TRIGUEIROS LIMA em 06/10/2011
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