A ciranda dos versos
Meus versos parecem-se com anjinhos sapecas.
Quando apago a luz do abajur e me ajeito bem à vontade para descansar, eles começam a saltitar em minha cabeça. E não adianta ficar me virando de um lado para outro na cama, não adianta ficar quieta, fazendo de conta que nada está acontecendo, aí mesmo que eles ficam doidinhos... se ajeitam, se desajeitam, ora fazem rima perfeita, ora perdem o ritmo, chegam a se esconder.
Acabo ficando maluca com essa ciranda dos versos indo e vindo, obrigo-me a levantar, pegar papel, caneta e começar a escrever.
Aos pouquinhos, os versos saltitantes vão se acalmando, acomodando-se na folha.
Alguns versos rebeldes tentam escorregar nas sombras da minha mente e tenho que trazê-los, devagarinho, com muita delicadeza.
Entretanto, os versos que mais me dão trabalho são aqueles que ficam fugindo de uma linha para outra, até se aconchegarem na estrofe certa.
Quando vejo que terminei, coloco ponto final rapidinho, antes que surja outro verso desobediente.
Só então, com um sorriso e um suspiro de alívio, consigo deitar-me e dormir como um anjo.