Ouço baixo seu suspiro e vejo sua queda lenta
Na penumbra da noite onde a única luz que banha o abismo de suas convicções é a do luar, ela contempla o inefável de seus anseios perdidos. O vento balançando o negro da alma. Ouço baixo o seu suspiro e vejo sua queda lenta, em seguida, o barulho do corpo que se misturou às espumas da dor.
Antes de acordar e sentir que isso só foi um sonho, consigo perceber a beleza da morte e a sua relutância em nos buscar no momento certo, naqueles, cuja angústia lança a sua luz indefinida, quase tênue, refletindo pecados esmaecidos pelo tempo, mas ainda vivos e que ferem e dilaceram como um gládio romano.
E junto vem o medo, corruptor de ações, sorvendo, numa respiração estéril e viciada, a ingenuidade do pequeno Eros, pois sim, ele se foi, mas a mãe, Afrodite maculada, expande, numa laboriosa febre de luxúria, o veneno que entorpece os vestígios da inocência.
Foram todos sacrificados na noite da cidade, lacerados em um altar esculpido numa argila esmaltada com sangue e cobiça.
Ao levantar, sacio a minha sede, bebendo no crânio dos meus antepassados. Vejo a Lua, jovem virgem mutilada, pairando na noite promíscua da minha solidão, tento alcançá-la, levanto o meu sabre, fazendo um círculo monástico em torno do nosso destino, mas não há resposta. Perderam-se encerradas no interior de seu calabouço.
Então eu caminho, passos lentos, porém firmes, daqueles que já conhecem o seu itinerário. A jornada é curta, antes mesmo que a areia do tempo se dilua pelas minhas veias, eu a vejo, paro por um minuto e flerto com o meu precipício...