SEGREDO - PARTE I

Leva-me saudade! Em teus braços conduza-me à ventura encantada do olhar primeiro. Deixa-me numa tarde luminosa que tão sublime dignou-se o tempo eternizá-la.

Ó tarde! Foste em minha vida o despertar de um sono antigo, em que os sonhos desbotados, já não tinham alegria; foste um hiato que marcou um novo início e reacendeu o brilho dos meus olhos.

Foste tu, ó tarde, que me mostraste uns olhos de âmbar, olhos divinos de um anjo que veio habitar entre os mortais; olhos que, ao fitar os meus, provocaram uma tempestade que me escureceu a vista e incendiou no peito um coração meio petrificado, causando uma sensação a muito esquecida; a sensação inquietante de que tudo estava fora do lugar, em movimento frenético.

Lembro-me bem que trazia nas faces uma expressão séria, mas mesmo assim, ela não podia ocultar o encanto; encanto que atraía-me com uma força indizível e tirava-me dos pés o chão.

O teu arrebol, ó doce tarde, era por certo o prenúncio de um novo nascer; e o teu crepúsculo era o convite de repouso a uma alma cansada.

Ó saudade, tu que és a deusa do tempo, só tu podes trazer de volta do Olimpo das lembranças passadas uma felicidade vivida. Traze-me, pois, um momento maravilhoso em que no silêncio de um olhar, um sutil toque na alma pôde mover um mundo e transformar-me a vida.

Abnel Silva
Enviado por Abnel Silva em 01/10/2011
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