Tela de Pino Daeni

 
 
Esta querência tomou conta de mim
Já não sei se perdi o norte ou o sul do meu trajeto
E nesta minha ardência de mulher plena,
projeto-me em brumas de profundo anil
Em agonias meu ventre orvalha em despudor,
desobediente de qualquer regra que pudesse impor-me
Nesta exigência que me aflora,
querer assenhorou-se da minha razão absoluta
Todo meu corpo reclama furioso e lânguido,
audaciosamente quer o desconhecimento do talvez
Quer saber em detalhes, exigente e minuciosamente
todo o secreto confidenciado em mim
Um afago ao qual me doo sem boa vontade,
vem sendo o que atenua tal impaciência que me acompanha
Nas minhas entranhas,
possibilidades corrompem artimanhas que inventei para mim;
uma forma ineficaz de tentar um engodo
uma rasteira para minha tesura irrequieta
Atipicamente, como um uivo para o sol,
lamento em desejos trapaceiros,
posto que a lua fugiu-me pela janela da espera,
já que não me chega à porta nem por mero acaso
Estou invernando dentro de um verão
e em labaredas em meio ao inverno
E quero sem saber se devo, se me é permitido,
mas confiante que posso afervorar este desejo que me toma
Sei que sinto avivado não apenas meus poros,
mas o açude inóspito do meu querer encerrado num calabouço