[Tenho as Mãos Vazias]

[Como todos sabem, as janelas não são responsáveis pela paisagem que mostram]

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*** Destaco já o fundamental: eu estou só, eu nunca me senti tão só como me sinto agora.

*** Parece-me que chegou um tempo em que já estou a me despregar do mundo, como se eu fora um desenho, uma figura caindo da trama do tecido [da vida].

*** Despertenço mais e mais.

*** Parece-me cada vez mais fútil falar às pessoas.

*** Insuporto conversas em geral... Prefiro a contemplação do inútil.

*** Então, silencio. Silencio mesmo quando tenho vontade de falar.

*** Não suporto, não suporto mesmo a pressa dos outros! Acelerar para quê... para o Nada de ser?!

*** Também não suporto a incapacidade das pessoas de ver que nada faz sentido além do quente do momento.

*** Nestes dias, o sentido fundamental da vida é conseguir pagar pelas coisas que me interessam. E são poucas as coisas que me interessam além de sexo, meu carro, queijos, vinho, cerveja, alguns tipos de frutas, e a internet, como janela de aeração.

*** Todos estão acelerados, e eu estou pisando nos freios. Mas não tenho desespero... tenho descrença.

*** Talvez seja esta uma forma de desespero, mas, pelo menos, é um desespero calmo, muito calmo. Eu estou frio, calmo...

*** Faz anos que falo em preparar-me para morrer, se é que isto tem sentido... Epicuro que me ajude...

*** Não tenho mais fôlego para comover-me... se vir alguém despedaçado, não sentirei nada. Taparei o nariz, se cheirar mal. E é só.

*** A infelicidade dos outros é só a infelicidade dos outros, principalmente por que eu não sou a causa da infelicidade alheia.

*** Eu passo pelos outros como se eu fosse uma sombra leve, ligeira; não quero cumprimentar ninguém.

*** Quero apenas conceder-me paz e coragem para encarar a finitude.

*** Nenhuma disputa me interessa, cansei-me de todas. Talvez eu não defendesse a minha vida, não sei...

*** Todo dia avulta-me na mente essa covardia de pensar que quem me matar, na verdade, me fará um favor, pois...

*** Aprendi que a minha morte não me concerne, não me diz respeito.

*** Tenho as mãos vazias... prontas para o sono...

Fica isso aí. A lista seria extensa demais... mas é isso... ou quase isso! E repito: como todos sabem, as janelas não são responsáveis pela paisagem que mostram.

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[Desterro, 24 de setembro de 2011]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 27/09/2011
Reeditado em 27/09/2011
Código do texto: T3243083
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